10.7.11

Livros: Memento Mori

Durante a Idade Média praticou-se o chamado enterramento ad sanctos, ou seja, o mais próximo possível de relíquias ou de altares, o que significa que as inumações eram realizadas no interior das igrejas, nos seus átrios e claustros.

Esta prática contrariava o costume deixado pelos romanos de inumar-se longe dos locais povoados; prática também defendida pelo cristianismo primitivo.

As inumações ad sanctos foram abandonadas no século XVIII, em favor de uma política mais próxima da romana, seleccionando-se locais distantes das zonas populosas para se constituírem locais específicos de enterramento: os nossos cemitérios românticos (vitorianos) que, por vários motivos, se tornaram locais seculares, ainda que continuem a ocorrer funerais religiosos.

Recordo que a língua inglesa permite distinguir dois tipos diferentes de cemitérios: graveyard ou churchyard e cemetery. O primeiro usa-se, normalmente, para designar os terrenos em volta das igrejas, onde eram realizadas as inumações até ao final século XVIII, início do século XIX, e o segundo é utilizado relativamente aos cemitérios românticos, do século XIX em diante.

Um dos vários livros de fotografia da autoria do excelente fotógrafo Simon Marsden chama-se Memento Mori e, ainda que seja considerado um álbum de fotografia cemiterial, chamo a atenção para o facto das imagens deste livro serem de igrejas e átrios de igreja ingleses; ou seja, os locais onde eram realizadas as inumações ad sanctos.

As imagens são, como sempre, de uma beleza etérea, quase sobrenatural, onde os exteriores se apresentam no preto e branco exótico, característico dos trabalhos do autor, graças ao uso da técnica de infravermelhos.
Os interiores são aqui apresentados a cor, o que não acontece com frequência nos livros de Marsden, mas - com a excepção dos vitrais, que nos são apresentados em todo o seu esplendor colorido e luminoso - o fotógrafo apresentar-nos imagens quase monocromáticas de grande riqueza; contrariamente ao que, por vezes, acontece na fotografia cemiterial, o uso da cor não tem o efeito distractor que nos leva a ignorar a peça de arte, em favor de um ramo de flores coloridas, por exemplo.

Para além das imagens, Marsden escolheu um conjunto de citações de autores conhecidos e que escreveram sobre a Morte ou, pelo menos, trataram-na sem embaraço nos seus trabalhos, como Charles Dickens, Emily Brontë, Emily Dickinson ou Edgar Allan Poe.

Ainda que não seja o meu trabalho favorito de Simon Marsden é, para todos os fãs de fotografia cemiterial, uma obra a adquirir.


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