31.10.11

Dia dos Fiéis Defuntos

Com o início do mês de Novembro aproximam-se duas datas que aparecem associadas aos cemitérios e à Morte; uma de modo correcto e a outra por engano ou necessidade: o Dia de Todos os Santos e o Dia dos Finados ou Fiéis Defuntos.
Existe alguma confusão identitária entre o Dia de Todos os Santos e do Dia dos Finados; talvez originada pelo facto do dia 1 de Novembro ser feriado e a maioria da população aproveitar a circunstância para visitar os cemitérios, embelezar e limpar campas, de acordo com o costume do Dia de Finados.
Na verdade, o Dia de Finados é dia 2 de Novembro, sendo que a 1 de Novembro se celebra o Dia de Todos os Santos - são, realmente, celebrações diferentes.

O Dia de Todos os Santos foi instituído para celebrar os todos santos da Igreja Católica, tendo sido criado quando se constatou que o número de santos e mártires era já superior ao número de dias do ano, o que impedia a atribuição de um dia específico a cada novo santo. Todos os dias do ano são dedicados a um determinado santo, de tal modo que ainda hoje há pessoas que recebem o nome de acordo com o santo que é celebrado no dia do nascimento (ou que recebem prendas no dia do santo de seu nome, mesmo nascendo em dia diferente).
Por este motivo, a Igreja definiu um dia em que todos os santos são celebrados, independentemente de terem um dia específico ou não.
Aliás, foi desta celebração que apareceu o nome Halloween, atribuído ao dia 31 de Outubro, outrora designado All Hallow's Eve: a véspera de todos os santos.

O dia 2 de Novembro é o reservado aos Finados.
Existem várias versões sobre a origem desta dedicação, mas as celebrações católicas associadas aos mortos começaram durante a Idade Média, quando a ideia de Juízo Final foi alterada.
Inicialmente considerava-se que os mortos ficavam num estado em que as suas almas se encontravam como que adormecidas, sendo que seriam "acordadas" no momento do Juízo Final, onde seriam julgados e posteriormente enviados para o Paraíso ou para o Inferno para toda a eternidade.
Durante a segunda idade média, esta prespectiva foi sendo alterada passando a conceber-se a existência de um julgamento imediato aquando da morte. Findo esse julgamento, onde mais do que o peso das boas ou más acções durante toda a vida era tida em conta a forma como essas acções eram encaradas pelo defunto, a alma seguia no imediato para o Paraíso ou para o Inferno.
É então criado o conceito do Purgatório, um local onde as almas dos mortos que não são maus o suficiente para ir para o Inferno, mas que também não são bons o suficiente para ir para o Paraíso, ficam em penitência para, com a ajuda das orações do vivos, conseguirem finalmente aceder aos Portões de São Pedro.

É esse o mote que transforma a Morte num negócio rentável para a Igreja.
Não só cobram os enterramentos ad sanctos (uma vez que a prática era "proibida" e, consequentemente, era necessário pagar um valor para a proibição ser levantada e a inumação ocorrer no interior das igrejas), como a participação nas procissões fúnebres e as diversas missas pelas alminhas dos defuntos.

As missas e orações pelas alminhas dos defuntos estão na origem do culto das alminhas, que esteve muito em voga no nosso país a partir do século XVI.
São inúmeras as capelinhas-oratórios que existem espalhadas na berma nas estradas nacionais ou nas esquinas de ruas de vilas e aldeias, funcionando como lembretes a pedir orações pelos mortos presos no Purgatório. Normalmente, são figuras humanas ou anjinhos, talhados em pedra, madeira ou delicadamente pintados em azulejo; por baixo das imagens pode ver-se um P.N.A.M - sigla que também é muitas vezes encontrada em campas de cemitérios católicos - e que significa Padre Nosso / Avé Maria, recordando as principais orações esperadas.

Diferentes culturas têm diferentes abordagens ao Dia dos Finados.
Na sua base está a raiz europeia, que dita que as pessoas se desloquem aos cemitérios, enfeitando e limpando campas, mesmo que algumas delas tenham já perdido o hábito de prestar o tributo das orações. Em algumas culturas essa celebração, em contacto com costumes locais igualmente antigos, converteu-se numa celebração diferentes.
Talvez a exemplo mais flagrante das diferentes abordagens é a forma como o sombrio Dia dos Finados é transformado na festa do Dia dos Mortos, no México. Oferendas de caveiras de açúcar exuberantemente enfeitadas, pães, bolos, bebidas são deixadas nas campas de familiares e amigos, em vigílias animadas e cheias de recordações.

Independentemente das diferenças, o Dia de Finados é o dia por excelência para recordar aqueles que já partiram.

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